A POSSÍVEL FALÁCIA DO AUTO CONHECIMENTO

A POSSÍVEL FALÁCIA DO AUTO CONHECIMENTO

 

O lugar comum hoje quando se pretende expressar intenções profundas em relação a Yoga ou outros caminhos é falar em autoconhecimento. Não se percebe o possível engodo e auto engano que se esconde nessa suposta profundidade de intenção.

Existem alguns modos de entender essa possível falácia.   Um equívoco básico, por exemplo, é supor que existe um eu que conhecerá e um eu que será conhecido. A conversa então já inicia com esse erro. Em uma visão clara da realidade não há nem um nem outro. E muito menos essa dualidade. Quem conhecerá quem?

O eu que ignora e que por isso mesmo se põe na tarefa de conhecer, naturalmente só pode ser uma identidade ilusória, pois se fosse real a sabedoria estaria presente; a sabedoria seria parte do que ele é!  E o suposto eu a ser conhecido se for efetivamente real está fora do alcance desse eu ilusório. E se for assim não é acessível e nem pode ser por ele conhecido.

Quando a expressão “auto conhecimento” se refere a um eu buscando conhecer os seus próprios conteúdos, isso só se daria a partir de uma lente interpretativa constituída pelos próprios conteúdos e filtros desse mesmo eu. Sendo esse eu aquele que ignora e sendo ele basicamente constituído de memórias, sua pretensa compreensão é uma interpretação a partir de lentes que em última instância são os seus próprios conteúdos. Portanto, passado! O passado se projeta e enxerga a ele mesmo em tudo o que vê. Desse modo a visão já está desde o início comprometida pelos próprios filtros. É claro que nenhuma compreensão confiável ocorre nessas condições.

Autoconhecimento parece mesmo mais um jogo de palavras que soa bem aos ouvidos e que traz a quem o fala um ar de seriedade, de credibilidade as vezes, um senso de relevância enfim.  Mas que ao ser visto de perto se mostra vazio.

Se de algum modo essa expressão pode ter uma pequena chance de fazer algum sentido seria no contexto em que ela é entendida como algo que trata de evidenciar a inexistência do eu. Conhecer seria então um saber que constata a inexistência daquilo que seria o objeto do conhecimento. Ver que não há eu para ser conhecido e nem um eu para conhecer. Isto é sabedoria. Nela a consciência pura é o único ser. Essa pura consciência é absoluta clareza. Nada se oculta ao que ela é. Ela é auto evidente e a luz de si mesma. Não tem origem nem fim. É una e única. É uma vastidão infinita além do tempo. Essa é a dimensão do Yoga! Muito além e fora de qualquer autoengano e jogo de palavras sobre autoconhecimento.

Na expressão autoconhecimento se supõe a existência de um eu, e uma vez suposto e estabelecido como algo existente ocorre toda uma marcha para que ele venha a ser conhecido. Mas o detalhe é que foi a própria ignorância e ilusão que supôs a existência desse eu … que passa então a ser aquilo que se precisa conhecer. É uma suposta realidade. Uma projeção fantasmagórica gerada pela própria dinâmica mental. Na qual aliás nenhum eu existe. Tudo é fluxo e impermanência.

Em um Yoga Real o processo é dissolver exatamente essa noção ilusória de si. Perceber a inexistência desse suposto sujeito, eu. Dissolver a ignorância sobre si mesmo é perceber a ausência desse sentido de si baseado no tempo. Então não se trata de conhecer a si mesmo. Se trata de dissipar a ilusão sobre a existência desse eu. O que surge então é a consciência pura, purusha, paramatma. Aquilo que antecede a tudo, e está sempre aqui e agora. Nada há para ser conhecido aí pois não há nada fora do que Ele é.

“O que você é, só pode sê-lo, não conhecê-lo”. Diz o sábio Nisargadatta Maharaj!

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