REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO: QUE YOGA DEVO PRATICAR ?
Ao responder a questão que “Yoga devo praticar?” é necessário antes de mais nada, dizer o que é Yoga. A afirmação de Sri Patanjali Yoga chitta vritti nirodha é consenso entre boa parte dos Mestres. “Yoga é a parada das ondas mentais”! Yoga é então um estado de ser que surge quando a mente se abre para aquilo que está além dela mesma e além do eu histórico temporal. Portanto o Yoga representa uma verdadeira transformação de consciência.
Sendo Meditação precisamente esse estado além da mente não é possível surgir o estado de Yoga sem Meditação. Esse é um primeiro critério para responder a pergunta. Se em um trabalho de Yoga não houver nenhuma ênfase em Meditação, trata-se de um sistema de exercícios que pode ser muito semelhante em alguns aspectos, mas que certamente não é Yoga! Isto porquê sem Meditação, não ocorre a “parada das ondas mentais” e consequentemente não acontece o Yoga!
Então ao frequentar uma aula, verifique se o que se pratica com esse nome é efetivamente Yoga. Observe a ênfase que se dá à Meditação. Pergunte a respeito e veja não apenas o quanto se fala sobre a necessidade da Meditação e auto conhecimento mas principalmente verifique o quanto se criam as condições para que isso aconteça.
Ao responder essa pergunta orientações que direcionam excessivamente a escolha do futuro praticante precisam ser questionadas. Muitas vezes se pretende substituir a inteligência do aluno com declarações do tipo “se você é uma pessoa dinâmica e esportiva faça esse estilo; se você quer mais Meditação faça aquele; se não gosta de mantras então esse não serve” e assim por diante.
Orientações assim não consideram, por exemplo, que muitas vezes as pessoas precisam de coisas que em um primeiro momento elas talvez não gostem muito. E isso pode ser exatamente um sintoma das suas necessidades. Praticando por algum tempo elas sentem o benefício, reconhecem e passam a gostar. Direcionar a decisão é no mínimo privar as pessoas do direito de exercer a sua capacidade de pensar, refletir, experimentar e então decidir a partir de impressões provenientes de sua própria vivência.
Alguns estilos de Yoga têm diferenças tão pequenas que ao direcionar por características pessoais, certamente haverá a tendenciosidade daquele que indica. Isto porque mais de um estilo, é capaz de atender as necessidades de um determinado perfil de praticante. Quando é assim como orientar?
Por exemplo: todos os Yogas que fazem jus à esse nome usam técnicas de Meditação. A diferença estará no tipo de técnica utilizada. Se não falam e nem criam as circunstâncias praticas para que a Meditação seja vivenciada, saiba, esse é um forte indicio de que você está em um lugar onde não encontrará o Yoga mesmo. Mais de um estilo utiliza exercícios dinâmicos sincronizados com respiração. Outros praticam os asanas (posturas) de maneira estática, com ênfase na permanência. Existem diferenças na maneira de praticar as técnicas de respiração, mantras e posturas, mas um leigo, provavelmente não entenderia a implicação dessas diferenças. E essas diferenças não são suficientes para justificar orientações diretivas, que possam ser ao mesmo tempo imparciais e objetivas.
É legítimo que ao orientar alguém que procura Yoga uma pessoa fale da sua experiência com essa ou aquela Escola. Mas sugerir que a sua opinião e experiência seja um critério de verdade seria dar à uma vivência pessoal o estatuto de paradigma. Ao invés de tentar ressaltar pequenas diferenças, consideramos melhor indicar que o interessado faça algumas aulas experimentais e avalie o que ele experimentou; como se sentiu.
Existem aqueles que defendem a ideia de que os objetivos de alguém ao procurar Yoga é que deve orientar o tipo de pratica melhor para ela.
É possível concordar com essa ideia, quando os objetivos iniciais do praticante incluem o propósito essencial do Yoga: o acesso à um estado de ser além da mente! Ou seria valido se todos os estilos de Yoga fossem transmitidos com a finalidade de vivenciar o estado meditativo. Então, se fosse assim em qualquer Escola o praticante, mesmo chegando com objetivos restritos ou imediatistas, seria esclarecido sobre o que é Yoga e a amplitude da sua proposta. As diferenças de estilo então seriam apenas estratégicas. Em todas elas o aluno estaria se movendo no percurso de acesso a Si mesmo e ao que o Yoga é. Nesses casos sim, o interesse, a afinidade pessoal e estilo de vida poderiam ser critérios.
No entanto quando os objetivos iniciais do aluno são superficiais e imediatistas e visam apenas aliviar os sintomas negativos da ignorância sobre si mesmo, não faz o menor sentido falar que o praticante deve procurar um estilo de Yoga de acordo com os seus objetivos. O melhor, aliás, seria que ele nunca encontrasse um estilo de Yoga que se restringisse a esses objetivos. O praticante é que precisa crescer em direção ao que o Yoga é. Diminuir o Yoga ao tamanho de quem não o conhece é restringir não apenas o próprio Yoga mas o desenvolvimento do aluno que o procura.
Adequar a prática segundo as necessidades do praticante não significa reduzir a amplitude dos objetivos. Ao contrário, o trabalho do Yoga é dissolver progressivamente as dificuldades do aluno, atender suas necessidades, mas tendo em vista sempre a realização plena do ser.
Existem também discursos que não pretendem apenas substituir, mas que subestimam e insultam a inteligência dos praticantes. Bravatas como ”o nosso é o melhor Yoga do mundo”, “os outros não são o autêntico Yoga”, “agora vou ensinar o Yoga como ele realmente é”. Esse tipo de fanfarronice ainda existe e confunde alguns. O bom é que esses discursos enganam cada vez menos. Felizmente o senso crítico dos praticantes esta aumentando a cada dia. O número de bons profissionais é cada vez maior em todas as linhagens.
Então para iniciar no Yoga procure profissionais e observe as indicações citadas e faça todas as perguntas que considere relevantes. Fale das suas necessidades e expectativas e esteja atento às respostas e atitudes do profissional. É indispensável fazer no mínimo uma aula experimental dos estilos de Yoga disponíveis. Ou, o que seria melhor, praticar por um certo período observando os efeitos do trabalho em relação à sua qualidade de vida emocional, física e mental. Perceba o quanto se sente mais livre, em harmonia e confiante para ser você mesmo e crescer como ente humano a partir dessa base. O quanto aquela pratica te ajuda a se sentir mais forte, livre e com maior clareza para viver a sua vida.
Isto pode ser um bom começo para você na descoberta do que é o Yoga e de quem você é!