Meditação na perspectiva do Kundalini Yoga
Meditação é um estado de consciência. É uma dimensão do próprio ser. Portanto não é algo que se faz. As técnicas meditativas visam criar condições para esse estado acontecer. É como retirar as nuvens para que o céu claro apareça. Nesse caminho de extinção dos obstáculos muitas etapas naturalmente ocorrem.
Pessoas se confundem com processos que são naturais no caminho meditativo por terem um visão romantizada e fantasiosa do que seja meditação. Nos ensinamentos de Yogi Bhajan isso é descrito assim:
“O processo de meditação é um “treinamento” para a mente e o primeiro fato que ocorre é a liberação dos pensamentos, uma vez que a mente é incapaz de não liberar pensamentos.
Quando sentamos para meditar, fechamos os olhos e começamos a aquietar um pouco o diálogo consciente e, então, o subconsciente vem à luz e os pensamentos começam a criar imagens e lembranças. Este é o primeiro passo e ele é parte essencial do processo da meditação para que a mente possa liberar esses pensamentos.
Os primeiros pensamentos a serem liberados são de um nível mais superficial, os que acumulamos em nossa memória mais recente, os que surgiram no dia de hoje ou nos últimos dias, assim também aquelas preocupações, pensamentos e atividades que estão em destaque em nossas vidas. Enquanto as águas desse lago, que são os pensamentos, estão agitadas, elas removem a areia e a superfície se turva, não permitindo enxergar o fundo. No entanto, quando a água se acalma, a areia vai para o fundo do lago e seremos capazes de ver o fundo, a parte profunda. O mesmo acontece com a mente.
FASES DO PROCESSO MEDITATIVO
A primeira fase da meditação é a liberação do subconsciente, o acalmar a mente, apaziguar as emoções, aprofundar e contatar com esse algo mais profundo e real que há em nós.
A segunda fase é o auto-conhecimento, é começar a ser consciente, de saber porque somos como somos, percebendo quais são nossos padrões de comportamento e ação, de poder, intuitivamente, começar a mudar estes padrões. Então, entramos na outra fase.
A terceira fase é começar a viver conscientemente. Quando o ser humano atua e pensa de uma forma que lhe permite sentir a união com o fluxo do Universo, com a vontade divina, com o Tao, com o Dharma, como queiram chamar, sente que sua vida começa a se desenvolver sem dualidade e sem conflito.
A finalidade da Meditação: viver conscientemente
A finalidade da meditação desenvolver a capacidade de viver conscientemente e se liberar do processo de sofrimento que, dia após dia, repetimos: os mesmos padrões de pensamento, de comportamento e ação. Podemos aprender técnicas que nos ajudem a comandar com consciência a nossa própria vida, para que então os automatismos se dissolvam e surja a liberdade de ser quem realmente somos.
Um dos sintomas de maior consciência é a possibilidade de romper o sentido da dualidade. É sentir que somos diferentes do que pensamos e manifestamos. Conseguir separar o que somos do que os outros pensam que devemos ser eliminando todos os conflitos duais que temos em nosso interior. A meditação nos dá uma oportunidade de realizar isso. Porém é preciso experienciar e isto é um processo de aprendizagem.
Lembre de que sua mente leva anos alimentando o subconsciente e reforçando estes padrões mentais. Com a meditação iniciamos um processo de liberação dessa hipnose negativa do passado.
Quando iniciamos a meditar algumas coisas tendem a acontecer:
O primeiro é a ansiedade por estar sentado e quieto. Por isto, é aconselhável antes, praticar uma série de exercícios, que ajudarão a desbloquear as energias físicas, equilibrando-as, de modo que ao começar a meditar, as energias físicas estejam harmonizadas, o sistema nervoso, o mais tranqüilo possível, para que possa permanecer quieto e meditar.
O segundo é o diálogo interno que será despertado. Deixe passar todos os pensamentos e comece a desapegar-se deles, imaginando simplesmente que é um filme, ou um gravador que você está simplesmente assistindo ou escutando. Deixe que os pensamentos venham e passem, mas quando prender-se a um deles, deixe passar e, pouco a pouco, esse diálogo interno irá se aquietando.
Yogi Bhajan recomenda duas coisas:
1. Meditar todos os dias, se possível na mesma hora e no mesmo lugar. O ideal é de manhã, antes do nascer do sol, já que nestas horas a energia do planeta ajuda muita a prática da meditação e no aprofundamento interior. Essa é a melhor hora.
2. Se não pode fazê-lo escolhe qualquer hora do dia, porém medite no mesmo lugar e na mesma hora e crie um ambiente para meditar, um lugar de reverência porque, ao criá-lo, você está criando este lugar também dentro de você.”
Nesses ensinamentos de Yogi Bhajan que acabamos de citar, portanto, o sentido essencial da meditação é o viver consciente da própria infinitude a cada passo do cotidiano. E ainda o trabalho sobre si mesmo, chamado no Yoga de “sadhana” como auxiliar para desconstruir as barreiras e ativar potenciais.
Um assunto com frequência mal colocado é a disciplina.Muitas pessoas pensam não ter disciplina para se dedicar à meditação. Mas olhando de perto não é disciplina o que lhes falta. Falta é a fome pelo Infinito. Disciplina é uma condição que espontaneamente surge quando há profundo e absoluto interesse em algo. O interesse gera uma aplicação natural da atenção sobre aquilo que interessa.Por isso o modo de lidar com a chamada falta de disciplina é se perguntar:o que realmente me interessa na vida? Tenho fome e sede de que?
Sem essa fome pelo desconhecido falar em disciplina soa pesado. E é pois estaremos fazendo algo que de fato não nos interessa. Havendo a fome em explorar as suas máximas possibilidades de perceber a si mesmo e a vida, a disciplina é uma atitude que surge naturalmente.
Akal Muret Singh