MEDITAÇÃO: A AUSÊNCIA DO MEDITADOR

MEDITAÇÃO: A AUSÊNCIA DO MEDITADOR

A palavra dhyan aponta um estado de ser onde ocorre a suspensão dos processos mentais e da ideia de si mesmo baseada no passado. Nesse silêncio do pensar emerge o ser que desde sempre se é. Atemporal, incondicionado, livre!

Mesmo não sendo totalmente adequada, meditação é a palavra usada para dizer dhyan. Nesse sentido meditação é a disposição de completa abertura e acolhimento do ente humano para a dimensão divina do ser.

Meditação implica a dissolução do próprio meditador. Por isso onde existe “alguém” meditando não existe meditação. Aquele que pratica a chamada Técnica de Meditação precisa desaparecer na própria prática, caso contrário não acontece a meditação.

Ramana Maharshi, um grande Mestre de Yoga, ilustra esse processo dizendo que o pedaço de madeira inicialmente usado para mexer na fogueira finalmente torna-se fogo e se transforma na própria fogueira. Essa seria uma prática onde o propósito essencial se realizou. Yogi Bhajan fala de mergulhar na inexistência .

Meditação não é uma técnica. É um modo de ser além da mente e do eu temporal. Meditação não é algo que se faz, mas uma frequência a partir da qual pode se fazer seja o que for. As técnicas são formas de intervenção sobre si mesmo visando criar condições propícias ao surgimento do estado de meditação. Mesmo não sendo elas próprias a meditação em si, e ainda que não necessariamente determinem o estado de meditação,  as técnicas são importantes agentes facilitadores ao despertar da consciência meditativa.

No entanto, é preciso a atitude e a prática adequada. Caso contrário quase nada acontece de fato. Quando o eu que desapareceria no processo meditativo se apropria da prática e encontra mecanismos de defesa diante do que pratica, o resultado é  auto enganação e culto do próprio ego. As vezes disfarçado com uma máscara de espiritualidade, e quem sabe acompanhada de alguns benefícios terapêuticos passageiros.

As  técnicas meditativas podem intervir sobre a dimensão corporal, pranica, emocional e mental. Atingem glândulas, chakras, corpos sutis. Essencialmente visam harmonizar e ampliar a percepção. E  com isso, desde o início, já promovem uma maior qualidade de vida, menos estresse e mais tranquilidade mental/emocional. Mas o que a meditação propõe mesmo de mais profundamente terapêutico é a dissolução da causa de todas as desarmonias: o eu temporal! Ou seja a noção de si mesmo baseada no tempo.

Existem diversos tipos de técnicas meditativas. Todas são legítimas desde que adequadas ao lugar, às pessoas e ao momento. Pois só assim criam a possibilidade de contribuir para a dissolução do próprio “eu” que pratica. A atualização de uma pratica para que seja capaz disso é tarefa de um Mestre. Cultuar o passado em nome de uma suposta fidelidade à tradição, ou adaptar ao momento guiado por critérios subjetivos, são os dois modos de deterioração de um ensinamento.

É também função de um Mestre contribuir para evitar o auto engano do praticante. Por exemplo: aquele que diz meditar para assim acessar um estado de ausência de sofrimento, apenas revela medo de sofrer. E se mantém existindo como aquele que sofre com a possibilidade de vir a sofrer. Do mesmo modo tentar evitar a raiva ou o ressentimento por entender que essas emoções o fariam sofrer ainda mais, apenas revela, de novo, medo do sofrimento e mantém com isso supostamente protegido o eu que sofre.

O desaparecimento do meditador e suas inúmeras possíveis motivações para meditar, é meditação! Incluindo sua talvez última tentação e sofisma: a compaixão. Meditar porque assim poderia beneficiar a todos os seres, sustenta, ainda que de forma sutil, a noção de separatividade; de um suposto  eu fazendo algo para alguém.

Ao se dissolver toda essa parafernália auto protetora e o pseudo eu que a mantém, só então se abre o espaço sem centro da consciência. E o que surge aí é a vida criadora de si mesma e em constante fluxo de expansão criativa, transposição de obstáculos e renovação. Essa é a força de ser da vida,  divina e poderosamente criadora. É a vitalidade infinita da consciência. E é a consciência infinita de ser Vida!

Akal Muret Singh

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